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PLURAL: os textos de Marcio Felipe Medeiros e Nara Suzana Stainr

Palavras e momentos
Marcio Felipe Medeiros
Sociólogo e professor universitário

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A cada momento das nossas vidas, algumas palavras assumem conotações diferenciadas em função do contexto em que estamos imersos. Uma palavra que descreve bem a situação na qual nos encontramos é "persistência". Embora seja uma palavra usual do vocabulário trazer um pouco de reflexão sobre o termo pode ser esclarecedor sobre a situação da vida.

PERSISTÊNCIA E A VIDA

Persistir tem alguns sentidos segundo o dicionário. Pode ser demonstrar constância, insistência ou conservar-se, perdurar. Os sentidos comuns são importantes para o uso correto. Entretanto, alguns questionamentos são de suma importância: o que é necessário para se conseguir persistir? O que preciso desenvolver? O Shoninki, obra escrita por volta de 1681 no Japão, apresenta alguns pontos sobre o assunto. Para persistir devemos, em primeiro lugar, ter um objetivo. É difícil suportar todas as adversidades que vivemos sem termos alguma ideia de onde queremos chegar. Em segundo lugar, sabendo o rumo que queremos tomar, agir com inteligência e astúcia para alcançar nossos objetivos.

Parece simples a estratégia, mas aí vem outro questionamento importante. Como saber onde queremos chegar? Essa pergunta é tão essencial, pois é comum encontrar pessoas com relativo sucesso na vida e bastante infelizes, pois trilharam caminhos que a sociedade diz que é de sucesso, mas não pararam para avaliar onde gostariam de chegar. Construir projetos de vida baseado meramente no que a sociedade ou outras pessoas nos dizem que é certo, sem refletir se aquilo nos faz bem é a receita para uma vida frustrada e infeliz.

REPENSANDO O MOMENTO

Vivemos agora um tempo em que, boa parte dos planos das pessoas desabou em meio à pandemia. A vida tem essa dinâmica, de frustrar nossas expectativas. Certamente, muitos estão ainda angustiados pensando sobre o que fazer, como persistir na vida e seguir em frente. A filosofia oriental tem algumas premissas bastante inspiradoras que dizem: antes de agir é importante alinhar nossa intenção. Significa que antes de tomarmos uma decisão, precisamos saber o que aquilo agrega na nossa vida. 

Algumas pessoas, mais imediatistas, podem pensar: "eu quero ganhar dinheiro". A questão é, dinheiro não tem sentido em si mesmo, precisa de algo mais. Este é um momento de persistir, mas mais do que isso, é um momento oportuno para rever nossos objetivos e intenções e, uma vez definidos, construirmos as estratégias mais adequadas para alcançá-los.

Dez anos da lei das cotas raciais
Nara Suzana Stainr
Doutora em Direito

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Lembro-me que em 2009 estive na Argentina, mais precisamente em Córdoba, na Faculdade de Filosofia, para apresentar uma palestra sobre a possibilidade das cotas, e foi uma surpresa daqueles estudantes, que nós, brasileiros, ainda precisássemos fazer uma lei para atender a educação.

Pois, já se discutia naquela época a forma de ingresso em cursos superiores públicos, e no final de agosto de 2012, a aprovação de uma polêmica lei de cotas trouxe a forma de ingresso nos cursos superiores das instituições de ensino federais.

A chamada Lei de Cotas 12.711/12, completará uma década neste ano de 2022. Teve como finalidade a obrigação das universidades, institutos e centros federais a reservarem para candidatos cotistas metade das vagas oferecidas anualmente em seus processos seletivos. Tal determinação deveria ser cumprida até 30 de agosto de 2016, entretanto já em 2013 as instituições incluíram 25% da reserva prevista, ou 12,5% do total de vagas para esses candidatos.

Tenho sempre a preocupação e responsabilidade para com o leitor, e nesse contexto entendo ser importante mostrar a origem da lei do sistema de cotas étnico-raciais no Ensino Superior público brasileiro. Por isso, um breve resgate histórico, segundo fontes acadêmicas.

Na celebração do Dia Nacional da Consciência Negra em 1993, estudantes da Universidade de São Paulo e da Pontifícia Universidade, que integravam o Movimento Reparações, inspirados no "Dia do Pendura" instituído por estudantes de Direito da USP, comeram, beberam e não pagaram a conta, estimada à época em US$ 700, anunciaram um manifesto que apresentava uma conta histórica à sociedade brasileira, com dados numéricos inclusive, onde aferia que milhões de africanos foram trazidos à força ao Brasil.

Descreveu o texto, literalmente, a força de trabalho escravizada, a "vida útil" média, a receita total proporcionada pelo trabalhador negro escravizado, levantando ao final que caberia uma indenização, como forma de reparação de danos. Logo chegou no Supremo Tribunal Federal (STF), que reconheceu a dívida. Contudo, avaliou, que não seria viável quitá-la com recursos do Tesouro, mas sim através do emprego de políticas públicas.

Deste momento em diante, pressões, lutas e movimentos sociais pelo reconhecimento do racismo e principalmente pela necessidade de políticas públicas para lidar com tal situação forma constantes.

E mesmo com resistência às cotas étnico-raciais, a lei de reserva de vagas com a inclusão dos negros na universidade foi aprovada, instituindo assim as ações afirmativas para ingresso no Ensino Superior público federal.

A própria redação da lei previne que, depois de 10 anos, o Legislativo Federal deverá se reunir para debater a conveniência de perpetuar ou não este instrumento de inclusão no Ensino Superior. Por isso, desde o ano passado, se pode notar as iniciativas tanto para defender a lei como para revogá-la. É bom ressaltar que tramitam no Congresso Nacional projetos de lei argumentando a sua interrupção até a sua prorrogação, incidindo diversos procedimentos de aprimoramento ou ampliação.

Agora é acompanhar. E tenha certeza que darei continuidade por aqui.

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